Quando ela pisou na areia

Quando Renata pisou na areia, meu corpo se desfez. Sua beleza turquesa de amêndoa pérola. Monumento ímpar. Desejo reprimido em meus gestos gastos, frios. Deixo tudo para ter Renata. Mulher de Deus. Sábia é a mão que lhe acaricia. Abaixo a tirania, ordena ímpeto seus ombros seguros. Já frágil, seu colo é um espaço aberto para um navegante.

Deitada ao meu lado, finjo me enganar. Enganar quem? Puxa o tecido, solto, que agora já lhe envolve o corpo. E minhas mãos, paradas, já não sabem se vão. Meus olhos se foram. Procuro a bússola, quando sinto que me perdi. Conversando, ela diz: Gosto de Caetano! Gosto mais é de cada silaba que sobrevoa a boca de Renata e que se vai em direção ao mar. Separadas. Juntas. Únicas.

Faço o contorno do corpo. Miro agora o pé. Calcanhares silenciosos, que à noite, carregam Renata nua até meu quarto. Deitamos. O toque proibido imposto por nós. Esquecemos de tudo. O sono chega. Peço perdão, por escrever versos de madrugada e te acordar. São só versos, seus versos.

Rio de Janeiro. Cidade escolhida por nós. Bela, moldura velha. Pintura moderna. Cores e sons. Na praia ensolarada, mar verde, céu azul. E as ondas caem. Renata levanta e sai, cabelos molhadas, levanta o mar. Vejo a cabeça erguida. Em meio ao mar. Olho o sorriso. Vejo, penso e logo quero Renata.

E o mar carrega e traz de volta o sonho. Ficar ao lado de Renata. Observar. Respirar. Perder o tempo. É assim. Estava sozinha. Triste em seu canto. Convidei-a para uma bebida. Dois. Três. Amantes. Eu apaixonado. Ela pela vida. Saímos pelo caminho sem saber o próximo passo. E já na praia, lembro dos fatos, guardados naquele fim de semana.

E o paraíso

Três minutos. Últimos preparativos. A platéia ávida. Esperando o momento que Lady Gezebel suba ao palco. E dance, mas mais do que dance, tire sua roupa. Mostre seu corpo. Que longe de perfeito, exibe pequenos peitos, embora durinhos, assim como sua bunda. Mas e daí. Contando que mostre sua buceta. Ah, que buceta! Apertadinha. Com uma penugem bem ralinha, curtinha e na qual, com certeza, deve passar água oxigenada. Só assim para ficar... assim.

Dois minutos. E essa porra de sapato com tantos fios para amarrar. Por que não usar nada mais fácil, ou entrar nua de uma vez? Mas não, me querem nessas fantasias, para no fim gozarem de prazer ao verem o que tenho por debaixo da roupa. Querem meu corpo! Todos, homens comuns com desejos comuns.

Um minuto. Eva, Eva. Já! Vamos logo Eva, caralho! Já está na hora, estão te esperando. Tô indo, porra. O quê? É isso mesmo. Só não te meto a mão porque já vai subir no palco. O Cú. Você não me mete a mão porque sou a grande atração desse seu showzinho. Cadela! Como a tua mãe. Vagabunda! Como tua ex-esposa, que te deixou para ficar com uma striper... sua,ainda por cima. Tá,vai lá e não enche.

Já fazem quase três meses que decidi seguir esse oficio. Minha missão é ser striper. Provocar a tentação. Mostrar aos homens que são apenas homens. Deus me fez esse pedido. Um pedido santo. Em troca O terei. Uma troca. Dou a nudez do meu corpo e recebo um lugar ao Seu lado no Paraíso. Um lugar que já foi meu.

O pedido foi feito em Sua casa. Numa igreja, durante a reza aos pés do altar, vi que o Padre me olhava com desejo... A cada reza eu ia com uma roupa mais ousada. Percebendo que eu já havia notado seus olhares, se aproximou. Em meus ouvidos disse que deixaria sua santa profissão para me enrabar. Não, não fiquei assustada. Compreendi tudo naquele momento.

Enquanto me fode, Paulo, o padre, diz que estou no caminho iluminado. Enquanto me come, fala que devo me orgulhar pelo Senhor ter me escolhido. Após o fim do coito, para finalizar o ato, Paulo nos lava com água benta. Limpa posso ir fazer o meu trabalho. Estou no caminho de Deus. Meu Senhor. Amém.